Releitura da maçã-do-amor une sabor, estética e técnica — e mostra como a gastronomia está cada vez mais conectada à cultura digital
Quem diria que um simples morango mergulhado em brigadeiro branco e coberto com uma camada brilhante de caramelo vermelho se tornaria a nova obsessão das redes sociais? O “morango do amor” — uma releitura moderna e delicada da tradicional maçã-do-amor das festas juninas — viralizou pela estética irresistível e aquela crocância que estala na primeira mordida.
Mas, por trás da aparência “instagramável”, há muita técnica envolvida. A professora Leila Assoni Santin, do curso de Gastronomia EAD da URI Erechim responsável pela disciplina de confeitaria, destaca que sobremesas virais exigem mais do que boa apresentação: precisam de base técnica sólida.
“A primeira coisa é a higienização e a secagem do morango. Depois, é preciso acertar o ponto do brigadeiro branco, que deve envolver a fruta. Por fim, vem a parte mais delicada: o caramelo. Ele leva glucose, vinagre branco e açúcar, e não pode ser mexido durante o preparo. O ponto certo é fundamental para dar aquela casquinha crocante sem grudar ou quebrar demais”, explica.
Trabalhar com caramelo pode parecer simples, mas o desafio mora no ponto. “Se passar ou faltar, ele não gruda bem ou fica duro demais. E cada receita pede um ponto diferente”, completa a professora.
Outro fator importante é a qualidade da fruta. Morangos muito maduros ou verdes demais comprometem o resultado. “A umidade interfere na aderência da cobertura e também na conservação”, orienta Leila.
Quando o feed vira vitrine profissional
A viralização do morango do amor também abre espaço para uma reflexão sobre como a gastronomia se conecta com as tendências digitais. E, segundo a professora, isso influencia diretamente a formação dos futuros gastrônomos.
“Influenciam muito. Principalmente os estudantes que querem empreender. O aluno precisa estar atento ao que está em alta, porque é disso que ele vai viver: da criatividade, da adaptação e do olhar para o mercado”, afirma.
Apesar de brincadeiras como “bomba de açúcar”, a professora lembra que a gastronomia também se sustenta com essas ideias que mesclam sabor, apresentação e oportunidade de negócio. “Muitas outras sobremesas virais ainda vão surgir. O profissional precisa estar preparado”, destaca.
O olhar de quem está se formando
Quem também vê o doce como um símbolo de criatividade e reinvenção é a estudante Larissa Zorzetto, do 5º semestre do curso de Gastronomia EAD da URI Erechim.
“Eu já conhecia o morango do amor e acho uma proposta super criativa, especialmente por ser uma releitura da nossa clássica maçã-do-amor. Com a substituição da maçã pelo morango, o doce ganha um toque mais delicado e moderno, que agrada tanto no sabor quanto na aparência”, comenta Larissa.
Ela reforça que o curso proporciona não apenas domínio técnico, mas também visão de mercado e comportamento do consumidor. “O curso nos prepara para métodos de preparo, segurança alimentar e também desenvolve nosso olhar crítico para novas tendências. Hoje, com as redes sociais tão presentes na vida das pessoas, a apresentação dos pratos é essencial. Tendências como essa mostram como a gastronomia se conecta facilmente com a cultura digital e incentiva os consumidores a experimentar e até reinventar essas ideias.”
Confeitaria prática e conectada à realidade
Mesmo sendo à distância, o curso da URI conta com dois meses de aulas práticas presenciais, realizadas na cozinha do curso de Nutrição. Nesse período, os alunos trabalham com caldas, caramelos, massas doces, pasta americana, glacês e tortas. Também têm contato com a história da confeitaria, explorando influências da cozinha das Américas, italiana e francesa.
“A gente precisa ensinar os alunos a dominar a técnica, mas também a olhar para o mercado com estratégia. Não é só seguir a tendência, é saber fazer bem feito e com consciência”, finaliza Leila.