Entre incertezas e preocupações
Entramos em 2025 com um sentimento de insegurança, reflexo direto das frustrações seguidas das últimas safras em nosso estado. Mais uma vez, a produção agrícola ficou muito abaixo do esperado, gerando impactos severos em todo o setor do agronegócio e nos tem deixado em alerta.
No mercado de sementes, observamos uma movimentação significativamente abaixo do padrão para a comercialização nesta época, especialmente nas vendas do distribuidor para o produtor. Conversando com colegas do setor de fertilizantes, o cenário é semelhante: paralisações nas compras, negociações travadas e um ambiente de muita espera, ainda sustentado por promessas que não se concretizaram para agricultura.
Nesse contexto, noto dois perfis distintos de profissionais atuando no mercado. De um lado, aqueles com bagagem e experiência, que reconhecem a gravidade do momento, mas também compreendem que o agronegócio é cíclico. Esses seguem firmes, com a certeza de que, com resiliência e estratégia, a retomada virá. De outro lado, há aqueles que se deixam dominar pelo pessimismo, absorvendo unicamente as notícias negativas do presente, o que compromete sua produtividade diária, visão de futuro e capacidade de reação.
Reconheço as dificuldades, mas acredito firmemente que é com apenas a continuidade, trabalho e atitude proativa que poderemos superar essa fase.
Observo com atenção, e certa admiração, algumas empresas agrícolas que, mesmo em meio às turbulências que viemos enfrentando recorrentes, investiram de forma consistente tanto no setor comercial, mas também em sua gestão da empresa, criando estratégias e processo para acompanhar o crescimento comercial. Essas empresas estão sim, sentindo os efeitos do momento, mas com menos intensidade do que a média do mercado. Isso mostra que preparo e estrutura fazem, de fato, uma grande diferença.
Outro ponto que preocupa é o elevado número de pedidos de recuperação judicial (RJ) no setor, reflexo direto da descapitalização generalizada e da alta carga de endividamento. Soma-se a isso a taxa de juros ainda elevada, que dificulta a reestruturação financeira e inviabiliza novos investimentos ou simplesmente compromete a implementação da nova safra. É um cenário que impõe limites severos à retomada, especialmente para produtores e empresas que já operam no limite da sua capacidade financeira ou que vem a um grande tempo operando com as margens negativas.
Frente a esse cenário, torna-se evidente que os modelos de negócios que sustentaram o agro por décadas: baseados em vendas malfeitas, margens apertadas, a falta de fidelização de bons clientes e prazos longos de pagamento, muitas vezes sem uma análise profunda do nível de endividamento do mesmo, precisam ser urgentemente revistos. É hora de reavaliar, modernizar e adaptar nossas estratégias. A crise atual pode, sim, ser o ponto de partida para uma transformação necessária.
E aqui também deixo um desabafo: um setor que representa boa parte da arrecadação do estado do Rio Grande do Sul está sendo esnobado por simplesmente querer dar continuidade à sua atividade. O mínimo que se espera é respeito e suporte para que a produção não pare.
“É semeando mesmo em tempos difíceis que colheremos os frutos de um AGRO mais forte, moderno e resiliente”.