Entre 2020 e 2025, perdas na agricultura no Rio Grande do Sul chegam a 51,3 milhões de toneladas, mais de R$ 300 bilhões em prejuízos, que equivalem a quase meio PIB do estado. Sem renegociação, 35% não terão como plantar. Produtores têm menor inadimplência do setor no Brasil
Centenas de agricultores e representantes de 40 sindicatos rurais da região se mobilizaram, em Erechim, nesta terça-feira (20), no cruzamento das rodovias ERS-135 e BR-153, juntamente com entidades, empresas do agronegócio e cooperativas, para pedir prorrogação e renegociação das dívidas, via projeto de lei (PL 320/25), que depende de aprovação. E utilização de recursos do Fundo Social Pré-Sal para o setor. As manifestações ocorreram em todo o estado.
Sindicato Rural de Erechim
A mobilização entregou panfletos para os veículos nas rodovias explicando a situação dos produtores do Rio Grande do Sul. Na abertura, o presidente do Sindicato Rural de Erechim, Allan André Tormen, agradeceu a presença de todos e disse que a manifestação ocorreu porque o produtor rural pediu ao sindicato para organizar o evento, com o objetivo de mostrar à sociedade o que é preciso fazer para retomar a produção agrícola do estado.
“Entre 2020 e 2025, o Rio Grande do Sul teve quebra em cinco safras. O acumulado de chuvas entre dezembro a março, de cada ano agrícola, foi 31% menor do que a média. Começa aí o problema, faltou chuva na safra. Quatro frustações de safra por seca e uma enchente. Se somarmos as perdas da safra 2024/2025 elas passam de 51,3 milhões de toneladas de grãos. Se o produtor tivesse colhido estes 51,3 milhões de toneladas, comercializado esta produção, feito ela girar na economia, isso representa mais de R$ 300 bilhões, equivale a meio PIB do Estado do Rio Grande do Sul no ano. Este problema começa no produtor rural e se distribui para outros setores da economia”, afirma Allan.
Sindicato Rural de Getúlio Vargas
O presidente do Sindicato Rural de Getúlio Vargas, Luiz Carlos Silva, disse que a securitização, nada mais é do que o alongamento das dívidas, prazo maior para pagar. “Nós, produtores do Rio Grande do Sul, somos os que têm menor inadimplência do setor no Brasil, a média nacional é de 7% a 8% e o produtor gaúcho é de 4,3%. Nós queremos pagar as nossas contas, só estamos pedindo um prazo um pouco maior, porque não tivemos renda”, afirma Luiz.
Ele ressalta que faltam políticas públicas adequadas para o setor agrícola. “O Proagro é um fiasco, todo ano reduzem nosso percentual de cobertura. Quem aqui teve uma lavoura segurada, com seguro agrícola. Vamos ter problemas, logo ali frente, com relação à crédito e os juros e encargos financeiros. Precisamos de políticas públicas para nosso setor”, destaca Luiz.
Prefeitura de Erechim
O prefeito de Erechim, Paulo Polis, se fez presente na mobilização e disse que o tema abordado é estratégico e fundamental. “Este é um problema muito grave, tema essencial, que é a produção de alimentos. Nenhum outro estado foi tão afetado, nos últimos cinco anos, como o Rio Grande do Sul. E, neste ano, estamos sendo afetados de novo por seca, enchentes, preços baixos e cultos altos de produção, então, o governo federal precisa olhar para o estado neste momento”, afirma.
Polis ressalta que os vereadores, prefeitos, vices, precisam mobilizar os seus deputados federais para aprovar o PL 320/25 do senador Heinze. “Eu vou fazer a minha parte, enquanto prefeito de Erechim. Vou ligar para os deputados federais para apoiar este projeto de lei. É importante que se faça isso. Se tem dinheiro para salvar banco, precisa ter dinheiro para reorganizar as contas de quem produz alimentos. É necessário buscar uma solução, que precisa ser trabalhada com urgência, porque o abismo está chegando e precisamos fugir dele. Precisa mais prazo e menos juros, que seja justo para quem produz alimentos para o Brasil e pro mundo. Esta reivindicação é justa e necessária”, disse o prefeito de Erechim.
Farsul
“O grande problema é acertar aquela dívida que já venceu, porque os juros não são mais os mesmos, aí vem as dificuldades, o produtor está descapitalizado, e os juros são muito altos. Para qualquer negócio, os juros são de 18% a 20% ao ano, o que é muito caro. Uma parte dos juros é subsidiada, mas a outra é juro livre. É uma situação muito difícil renegociar a dívida”, observa o vice-presidente da Farsul, Jefferson Camozzato.
Ele destaca que se o governo não fizer esta securitização em torno de 35% dos agricultores não terão capacidade de fazer novos financiamentos. “Não vão ter como plantar, e não foi por falta de gestão, foram problemas ambientais, porque o agricultor do Rio Grande do Sul é o menor devedor do Brasil, é o menos inadimplente do país”, enfatiza Jefferson Camozzato.
Conforme o vice-presidente da Farsul, os produtores não foram maus gestores, não gastaram o dinheiro de forma errada. “Foram prejudicados por secas e enxurradas, que dificultaram a vida de todos. O grande ápice do produtor rural é quando ele tira a máquina do galpão e vai colher. Este é o dia mais feliz de toda safra, mas as coisas não aconteceram como nós queríamos e por isso estamos aqui”, afirma.
Jefferson Camozzato comenta que a produtividade média da soja no Rio Grande do Sul, nos últimos 10 anos, foi de 49 sacos por hectare, e, nos últimos cinco anos, a média caiu para 36 sacos por hectare. “Uma queda grande”, disse.
Assembleia Legislativa
O deputado estadual, Paparico Bacchi, disse que este é um dos momentos mais difíceis do Rio Grande do Sul. “Nossa população está doente, emocionalmente, pela catástrofe climática, e debilitada financeiramente. E só tem um caminho para recuperarmos a economia do Rio Grande do Sul, que é pela securitização. Quando o produtor rural quebra a cidade para. Meu sentimento é que vamos vencer, temos bons parlamentares em Brasília e um bom projeto de lei”, disse Paparico.
Sindilojas Alto Uruguai
O presidente do Sindilojas Alto Uruguai, José Gelso Miola, ressaltou que a diminuição da área plantada de soja significa menor produção e, para todos os efeitos, perdas para municípios, Estado e União. “A falta de condição do produtor em investir numa lavoura de qualidade vai diminuir, também, a produtividade, e isto, novamente, impacta no comércio, diretamente. Tudo passa pelo setor primário. E se as nossas lojas estão com dificuldades e fechando é reflexo do que está acontecendo lá no campo”, ressalta Miola.
Fetag
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Viadutos, Adilson Machado da Silva, representante regional da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag), saudou os parceiros do evento e agradeceu aos agricultores. “Porque como combinado este é um dia de protesto de produtores rurais, uma mobilização que sai das bases, do campo, para pedir a prorrogação das dívidas e o fortalecimento do Proagro, medidas essenciais para garantir a sobrevivência das famílias do campo diante da crise”, disse ele.
Endividamento
Os produtores gaúchos têm dívidas de R$ 72,8 bilhões nas instituições financeiras e R$ 27 bilhões (38%) vencem em 2025. Deste total de 2025 quase 20% se referem a renegociações e prorrogações de anos anteriores. Ainda há dívidas significativas fora do sistema bancário, com cooperativas, revendas de insumos e cerealistas.