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Juros altos diminuem as vendas de carros usados

Publicada em: 06/02/2025 08:53 - Economia

Taxas elevadas podem passar de 2% ao mês ao financiar 100% do valor ou em carros com mais de 10 anos e estão inviabilizando as vendas, porque 1.6% ao mês resulta num acréscimo 60% no saldo total


Foi notícia em todo o país, o aumento da taxa de juros Selic, pelo Comitê de Política Monetária (Copom), órgão do Banco Central, que elevou um ponto percentual a taxa, de 12,25% para 13,25% ao ano. Qual a aplicação prática disso no dia a dia das pessoas? A taxa de juros Selic é referência, ela baliza e define todos os demais juros que serão aplicados na economia brasileira, entre eles, os juros dos financiamentos de imóveis e aqueles utilizados na hora de comprar os veículos.   

Pior mês

Segundo o socio-proprietário da loja Mais Veículos, em Erechim, Daniel Ortigara Maciel, que há 11 anos trabalha neste setor de carros usados, os juros estão interferindo, negativamente, nas vendas, porque a maioria dos clientes financia parte do valor do veículo. “O mês de janeiro foi o pior, em vendas, dos últimos 10 anos, e um dos fatores para isso foram os juros elevados”, ressalta Daniel.

Ele explica que a taxa de juros varia muito conforme a instituição e o escore do cliente, mas, mesmo um cliente, com escore bom, o custo efetivo total do financiamento pode chegar a 2,5% ao mês se ele for financiar todo o valor do carro.  Conforme Daniel, a alternativa é investir em consórcios, para quem quer trocar de carros nesta realidade de juros altos.

Menos financiamentos

O proprietário da loja Varguinhas Automóveis, Rafael Vargas, que atua desde 2008 neste ramo de carros usados, afirma que os juros altos têm reflexo e reduzem as vendas e, em função das altas taxas, vem diminuindo os financiamentos para compra de veículos usados. “Em média, na nossa loja, 50% das vendas estão ligadas à financiamentos”, comenta.

“Percebemos, neste mês de janeiro, que vendemos mais carros com consórcio do que financiados”, observa Rafael. Ele explica que estes clientes já tinham os consórcios, há mais de um ano, provavelmente, e analisaram que era melhor dar o lance e pagar a prestação do consórcio do que fazer o financiamento.  “As vendas de janeiro não foram ruins, mas foram baixas se comparadas ao mesmo mês de 2023”, destaca Rafael.

Perdeu negócios

“Perdi muitos negócios por causa dos juros altos, eles inviabilizam as vendas”, afirma Arone Ludke, proprietário da loja Arone Veículos, revenda de automóveis que há 30 anos está neste segmento comercial.

O comerciante observa que as vendas de janeiro diminuíram em função dos juros altos, que ficam em 2% ao mês, na média, se considerar o custo efetivo total do financiamento. “E se o carro for mais velho, tiver mais de 10 anos, os juros mensais passam de 2% tranquilamente”, ressalta o comerciante. 

Aumento

Ao fazer uma conta simples, sem consultar as instituições de crédito, se a pessoa for financiar R$ 50 mil, para adquirir um veículo usado, a uma taxa de juros de 1.6% ao mês, ela vai pagar R$ 80 mil no total. Se dividir este valor por 60 meses, a prestação mensal será de R$ 1.333, que é, relativamente, alta para o trabalhador formal erechinense que ganha, em média, segundo o IBGE 2,6 salários mínimos por mês.

Assim, a taxa de 1.6% ao mês resulta num acréscimo de R$ 30 mil, ou seja, 60% a mais do que o capital que ela pegou emprestado. Mas isto é um cálculo hipotético, na prática, o valor é ainda maior, porque as instituições de crédito trabalham com Custo Efetivo Total, que acrescenta outras taxas e impostos, aumentando o valor final do financiamento. Ainda há outras perdas, o bem vai se desvalorizando, ao longo dos anos, multiplicando os prejuízos de quem precisou financiar para comprar.


Por Ígor Dalla Rosa Müller
Foto Divulgação



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