A falta de autonomia é o maior impacto para essa faixa etária, trazendo grandes desafios
A qualidade de vida na terceira idade é um conceito muitas vezes influenciado por uma série de fatores, mas um dos maiores e mais frequentes impactos é, sem dúvida, a perda da independência. Para a médica geriatra Clarissa Molossi, esse é o ponto crucial que afeta os idosos, muitas vezes trazendo dor física e emocional. “Se eu tivesse que listar em termos de qualidade de vida para eles, é a perda de independência”, explica.
De acordo com a especialista, muitos idosos enfrentam desafios físicos por causa da vida dura e de profissões em que o trabalho pesado era predominante, resultando em desgastes em articulações e problemas como dores crônicas. Com isso, a diminuição da mobilidade e a dependência de cuidados externos se tornam inevitáveis. Clarissa ainda menciona o aumento de doenças cognitivas, como demências, que afetam de forma ainda mais contundente a autonomia dos idosos.
Além disso, a tecnologia e seus efeitos precoces nas gerações mais jovens também preocupam Clarissa. A exposição excessiva a telas, como celulares e tablets, desde a infância está relacionada ao aumento de transtornos mentais, como TDAH e ansiedade. Para ela, é essencial que as crianças e jovens tenham uma infância com mais estímulos ao desenvolvimento da criatividade e ao convívio social, evitando a dependência da tecnologia para respostas imediatas, o que afetará esse público quando chegar na terceira idade.
Tecnologia a favor da qualidade de vida do idoso
Apesar dos desafios, a doutora Clarissa vê a tecnologia como uma aliada valiosa na melhoria da qualidade de vida dos idosos, especialmente para aqueles que moram sozinhos. Tecnologias como relógios inteligentes, que monitoram a saúde do idoso e permitem o rastreamento via GPS, têm sido fundamentais para oferecer mais segurança e tranquilidade aos familiares.
Esses dispositivos podem ser essenciais para idosos que moram sozinhos ou cujos filhos residem em outras cidades. Além disso, o uso de câmeras de segurança, sensores de queda e dispositivos para monitoramento da saúde ajudam a criar uma rede de proteção mais eficiente para o público idoso.
Hábitos para envelhecer bem
Para Clarissa, o segredo para uma boa qualidade de vida na terceira idade está na adoção de hábitos simples e eficazes. A rotina é um dos pilares do cuidado com os idosos, principalmente para aqueles com demência. A organização das atividades diárias, como alimentação e sono, ajuda a garantir o bem-estar mental e físico. Ela também destaca a importância de uma alimentação balanceada, com foco no consumo adequado de proteínas e hidratação, que são frequentemente negligenciados pelos idosos.
Prevenção e monitoramento das doenças mais comuns
A prevenção de doenças como infarto, AVC e câncer é outro ponto fundamental abordado pela médica. Ela enfatiza a necessidade de rastreios regulares para detecção precoce, além de um acompanhamento constante para evitar quedas, que são um risco significativo para a saúde dos idosos
O idoso e a sociedade
Clarissa também levanta uma questão importante, que o mundo não está preparado para o envelhecimento da população. Com uma pirâmide etária invertida e uma maior expectativa de vida, o sistema de saúde e as estruturas sociais precisam evoluir para lidar com essa mudança. O envelhecimento ativo, que envolve a manutenção de uma rede social e de um propósito de vida, é essencial para garantir que os idosos vivam com qualidade até o fim da vida.
O mundo está envelhecendo rapidamente e as famílias, muitas vezes menores, enfrentam dificuldades para oferecer o cuidado adequado. No Brasil, já se enfrenta sérios desafios, como a falta de profissionais capacitados para trabalhar nas casas geriátricas e a crescente demanda por cuidados especializados.
É essencial que a sociedade se organize para atender às necessidades dos idosos, tanto no âmbito da saúde pública quanto no cuidado familiar e social e isso requer mudanças estruturais.
O respeito ao idoso
Essa troca entre gerações, o apoio da família e a interação com a comunidade fazem com que os idosos não apenas vivam mais, mas que essa longevidade seja significativa. “Respeitar o idoso é fundamental. Muitas vezes, os filhos, querendo fazer de tudo por eles, esquecem de perguntar o que eles realmente querem”, observa.
O respeito à autonomia e aos desejos dos idosos é crucial para preservar sua dignidade e qualidade de vida, claro que, àqueles que ainda tem discernimento e capacidade de decisão.