Confira as orientações do engenheiro agrônomo da Cooperalfa, Ferdinando Brustolin e do fitopatologista da Epagri, Dr. João A. Wordell
A cultura da soja é um dos pilares do agronegócio e da economia brasileira. Mas, para produzir bem, a cultura exige planejamento, análise de solo, estratégias de manejo, escolha de cultivares adaptadas à região e principalmente, que o produtor esteja atento às pragas e doenças mais comuns da cultura.
A diagnose correta é crucial para a prevenção das doenças dos cultivos e tomada de decisão acerca da medida de manejo a ser adotada. O fitopatologista da Epagri, Dr. João A. Wordell, explica que entre as principais doenças da cultura da soja, nos estádios iniciais, estão o oídio, que pode ser identificado através do esbranquiçamento das folhas e a ferrugem asiática, uma das principais doenças fúngicas da soja, que se manifestam por meio de manchas foliares, comprometendo a capacidade de fotossíntese da planta, levando à desfolha precoce e a redução de produtividade.
Já ao final do ciclo da cultura, no estágio reprodutivo, é comum à antracnose, uma doença fúngica que causa principalmente o apodrecimento e abertura precoce das vagens e a cercosporiose que se manifesta por pequenos pontos avermelhados nas folhas. Nos estágios mais avançados, a doença acarreta a desfolha prematura e a queda das folhas. Existem outras doenças como a mancha–alvo, complexo da anomalia, macrophomina, cancro da haste que são doenças do sistema radicular e do sistema condutor de seiva”.
Prevenção das doenças
Para prevenir as doenças na soja, Wordell explica que é possível adotar diversas estratégias, como: fazer adubação baseada na análise de solo, escolher cultivares que possuem um nível de resistência, utilizar sementes tratadas de preferência industriais e em casos de epidemia das doenças foliares deve-se fazer um bom manejo de fungicidas, realizando aplicações precoces entre os estádios V3 e V4 com fungicidas da classe dos triazois, visando principalmente o controle de oídio nos estágios iniciais, a cercóspora e antracnose que, muitas vezes, são oriundas da palhada antecessora e de sementes infectadas.
Wordell orienta que as aplicações de fungicidas sejam realizadas a cada 15 dias, totalizando de 4 a 5 aplicações por ciclo da cultura. “Essas aplicações vão depender também do ciclo das cultivares utilizadas. Nas cultivares de ciclo mais longo, às vezes, é necessário usar até cinco aplicações. No ciclo precoce e médio normalmente quatro aplicações são suficientes”, cita. O fitopatologista ainda destacou que é preciso respeitar o volume de calda, que deve ficar entre 120 e 150 litros/ha. “A soja é muito responsiva, quando uma parte da planta não é molhada pelo produto, acaba ficando descoberta e nesse momento a doença tende a penetrar na folha e iniciar a epidemia na cultura”. Segundo Wordell, uma planta bem nutrida tem a capacidade de suportar um ataque de doenças, melhor do que uma planta carente de algum nutriente.
O que observar quando a planta está doente?
Uma das recomendações é o monitoramento. “O produtor deve fazer um zigue-zague na lavoura, retirar algumas plantas, olhar, ver quais doenças estão predominando para então encaminhar e ver qual tratamento é o mais adequado. É importante ver o momento que essa doença está entrando na lavoura”, disse. A Epagri/Cepaf tem desenvolvido várias pesquisas com a cultura da soja, principalmente para determinar algumas estratégias de manejo. Os resultados das pesquisas sugerem a importância das aplicações de fungicidas, especialmente de forma preventiva e quinzenal, como medida ainda eficaz e confiável para proteger as plantas de soja contra a ferrugem asiática, garantindo assim uma maior estabilidade na produção e rentabilidade aos produtores.
Uso de multissítios
Existem três ingredientes ativos muito utilizados na cultura da soja que são o mancozeb, clorotalonil e o oxicloreto de cobre com boa eficiência no manejo de doenças na cultura da soja. “Hoje a utilização de multissítios é indispensável principalmente visando o controle da ferrugem asiática e das DFCs (Doenças de Final de Ciclo na cultura da soja). Todos os produtores deverão utilizar esses multissítios, associados aos demais fungicidas disponíveis visando aumentar a eficiência no controle de doenças na cultura da soja”.
De acordo com Wordell, o uso de estratégias integradas é essencial para o manejo de doenças na cultura da soja, tais como: bom manejo de solo, escolha de cultivares adaptadas e resistentes a doenças quando disponíveis, população e arranjo espacial de plantas adequados, uso de sementes tratadas e aplicar fungicidas em dose, volume de calda e intervalo de aplicação recomendado e, por consequência, importante na sustentabilidade das tecnologias e no controle das doenças no campo.
Pragas comuns na lavoura de soja
Entre as principais pragas da soja encontradas em algumas lavouras, o engenheiro agrônomo da Cooperalfa, Ferdinando Brustolin, que atende a regional de Chapecó-SC, destaca as vaquinhas, broca-das-ponteiras, percevejos, tripes e lagartas (em especial a falsa medideira). O agrônomo ainda chama a atenção em relação à praga tripes. “Existem duas espécies de tripes e é importante o produtor se ater a pragas, de tamanho muito pequeno, isso acaba dificultando a identificação”, disse. A recomendação é arrancar a planta observar principalmente nas folhas baixeiras da cultura.
A Broca-das-ponteiras, como o próprio nome diz, remete a ponteira da soja. A presença da praga tem se observado nos plantios mais cedo e tardios (safrinha). Já as vaquinhas, tem se observado após o estabelecimento da cultura a qual tem por preferência se alimentar dos tecidos mais jovens da planta durante a fase vegetativa, fase reprodutiva da cultura, portanto devemos realizar controle.
Outra praga presente nas lavouras são os percevejos que podem ser observados no início do desenvolvimento da lavoura e com grande capacidade de migração de uma área para outra, porém os maiores danos são na fase reprodutiva da cultura, formação de vagens e enchimento de grãos. Uma vez que os grãos atacados reduzem a qualidade e o peso do grão, já nas áreas de produção de semente podem inviabilizar o campo, afetando diretamente a qualidade fisiológica da semente. “Ao observar a presença de percevejos no início do florescimento é recomendado o produtor iniciar o controle de imediato. Para o complexo de lagartas temos as biotecnologias disponíveis nos cultivares de soja desde o início do ciclo da cultura até a colheita, com exceção dos cultivares RR. Devemos monitorar, às vezes só a biotecnologia não dá conta do controle e se necessário a utilização de inseticidas”, explica Ferdinando.
Monitoramento deve ser constante
O acompanhamento da lavoura deve ser constante, e começa antes mesmo do plantio até a colheita. Todas as partes da planta devem ser olhadas, como: raízes, folhas, hastes, as flores e os frutos para a detecção eventual de algum inseto praga. “O produtor deve realizar inspeção constante e frequente na lavoura, que são somadas as inspeções realizadas pelo profissional técnico, assim o diagnóstico fica mais assertivo e facilita a tomada de decisão em realizar o controle e qual inseticida deve ser utilizado para praga alvo”.
Os principais grupos de inseticidas disponíveis no mercado hoje são os piretróides com características de baixa seletividade aos inimigos naturais pouco residual. O grupo das diamidas com alta seletividade e efeito residual, são utilizados principalmente no controle de lagartas e brocas. Os neonicotinoies são muito utilizados para insetos sugadores a exemplo de percevejos e vaquinhas. O grupo dos organosfosforados tem amplo espectro de controle utilizados na rotação com inseticidas. Já os neonicotinoides são essenciais no controle de percevejos. “Recentemente tem sido disponibilizado ao mercado produtos novos, proporcionando controle por mais tempo e contribuindo para o manejo das pragas da cultura da soja”.
Em se tratando de percevejos, cabe uma atenção redobrada, principalmente na fase reprodutiva da cultura. “Poderá ter a necessidade de aplicação estra de inseticidas para controle de percevejo nos campos de sementes. “Além de afetar a produtividade e a qualidade do grão, as sementes atacadas normalmente diminuem a capacidade de germinação”, explica. O percevejo é normalmente a praga número um nos campos de sementes.
Ao falar sobre projeção, o agrônomo finaliza. “Esperamos que seja uma boa safra, o produtor está otimista, está investindo e fazendo o manejo no momento correto, que o clima continue interferindo positivamente para termos uma boa safra e com alta produtividade”.
